terça-feira, 26 de agosto de 2008

O Aroma dos Vinhos


Apresentar o vinho ao nariz talvez seja o estágio mais instigante de uma degustação. Os preceitos básicos para qualquer tipo de prova de vinhos são: taça e temperatura adequadas e, no que diz respeito à análise olfativa, é necessário utilizar a memória e a imaginação. Depois, comparar os aromas percebidos com aqueles que estão armazenados no banco de dados de cheiros do cérebro. Para os que possuem um repertório limitado, não há motivo para preocupação, o tempo e prática ampliarão esta lista até que atinja milhares de fragrâncias catalogadas. É importante dar nome a cada odor identificado, desta maneira, ele ficará registrado para sempre.

Em uma análise mais técnica dos aromas, vários aspectos são verificados:

Sanidade: se o líquido não cheira a nada desagradável ou estragado, como o que chamamos de bouchonné (rolha), por exemplo.
Intensidade ou ataque aromático: é a quantidade de aroma, o impacto do líquido em nossas narinas.
Complexidade: a variedade de cheiros, ou quantidade de diferentes essências que podem ser reconhecidas.
Reconhecimento: identificar e nomear os aromas que compõe o aroma final.
Originalidade: considerando alguns odores como banais e outros como raros e intrigantes.
Persistência: quanto tempo a sensação permanece em nosso olfato.
Evolução: aromas evoluem à medida que o líquido é aerado. Com alguns minutos ou até algumas horas na taça, aromas novos podem surgir.
Aroma de boca: as impressões retronasais são percebidas através da comunicação interna da boca com o nariz.
O aroma de boca é diferente do de nariz, pois a saliva aquece e intensifica a evaporação.

Podemos ainda agrupar os aromas da seguinte maneira, citando alguns exemplos:

Florais: acácia, rosa, violeta, flor de laranjeira, tília, narciso, jasmim.
Frutas cítricas: limão, laranja, maçã verde, tangerina, abacaxi.
Frutas vermelhas: amora, cassis, morango, framboesa, groselha, cereja, ameixa.
Frutas amarelas: pêssego, damasco, manga, pêra, melão.
Frutas naturalmente secas: amêndoa, avelã, noz.
Frutas secas, cristalizadas, em calda e geléias: ameixa seca, figo seco, uva passa, geléia de amora.
Especiarias: pimenta do reino, noz moscada, anis, cravo, canela.
Vegetais: feno, musgo, capim, grama cortada, pimentão verde, azeitona, tabaco.
Animais: couro, pelica, âmbar, almíscar, suor.
Herbáceos: hortelã, sálvia, aneto, orégano, manjericão, alecrim, pinho, manjerona.
Minerais: pedra de isqueiro, petróleo, terra.
Tostados: café, chocolate, caramelo, pão torrado, amêndoa torrada.
Químicos: asfalto, vinagre, gás de cozinha.
Outros: defumado, mel, manteiga, baunilha, cedro, carvalho, cogumelo, mofo, álcool, levedura, leite, tartufo, cascas de pão, enxofre.

Os aromas de um vinho também podem ser classificados em: primários, secundários e terciários. Os primários são os provenientes das variedades de uva com as quais o vinho foi feito, (Cabernet Sauvignon ou Chardonnay, por exemplo). Os secundários são os aromas que a bebida adquiriu em elaboração (fermentação e amadurecimento em barris de carvalho, por exemplo). Os terciários são os perfumes que o líquido ganhou ao longo de seu envelhecimento em garrafa. A palavra bouquet se refere apenas a aromas terciários, ou seja, este termo se aplica somente a exemplares envelhecidos.

Os aromas primários são os mais frescos, normalmente do grupo dos frutados, florais, vegetais, herbáceos e minerais. Os secundários ficam no grupo das madeiras, manteiga, tostados, leveduras, enxofre etc. Os terciários são mais etéreos e fechados, como os odores animais, químicos, mofo e tartufo.

Utilizando criteriosamente o olfato, pode-se dizer muito a respeito de um vinho: sua idade, em que país/região foi produzido (se era uma região quente ou fria, chuvosa ou seca, por exemplo), sua assemblage (os tipos de uva que o compõe), como foi produzido (que tipo de fermentação sofreu, se passou por estágio em madeira e em que tipo de madeira). Essências de banana, por exemplo, são típicos de um Beujolais Noveau; pedra de isqueiro nos lembra um Chablis; cheiro de petróleo é característico dos Rieslings da Alsácia; pimentões verdes são associados à Cabernet Sauvignon; perfume de pêra é comum em Processos; os vinhos portugueses feitos com a cepa Touriga Nacional nos remetem a violetas; enquanto Chadonnays quase sempre trazem abacaxis frescos ou em calda entre seus aromas. É possível, também, identificar, usando apenas o olfato, se o vinho amadureceu em barris de carvalho, por seu cheiro de baunilha e de tostados. Aromas de manteiga indicam que um vinho branco sofreu uma desacidificação (a fermentação malolática).
O perfume de frutas tropicais indica que a bebida sofreu uma fermentação mais longa e a frio.


Fonte: http://revistaadega.uol.com.br/Edicoes/20/artigo54015-3.asp

Um comentário:

Anônimo disse...

Ótima esta materia...
Bem completa, era o que eu estava procurando.
Vlw